Diferentes caminhos levam ao suicídio, mas um fator recorrente na nossa sociedade contemporânea se apresenta como central: a falta de escuta.
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio. O assunto ainda é considerado um grande tabu, mas vem sendo abordado
com maior recorrência desde 2003, quando a OMS decretou o dia 10 de Setembro como o Dia Mundial da Prevenção do suicídio. No Brasil, a campanha Setembro Amarelo teve início
em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) e pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). As primeiras atividades da
campanha aconteceram na capital do país, Brasília, e ganhou aderência nas demais regiões nos meses seguintes.
Ao trazer a tona o assunto, o Setembro Amarelo intenciona reforçar a importância do diálogo, quebrar o tabu e apontar possibilidades de escuta para quem está mais vulnerável.
No entanto, o suicídio ainda é um tema delicado de tratar – podendo trazer gatilhos e outros efeitos colaterais, a depender da abordagem e dos públicos dessas ações – e não basta
trazê-lo enquanto pauta durante apenas um mês do ano.
A falta de escuta, de conexão e de percepção que atravessa as nossas dinâmicas sociais nos isola e cria condições propícias para os sentimentos de solidão, desamparo e
desconexão interior – nos tirando de um contato mais próximo com o nosso manancial de recursos, com a nossa essência. Listamos abaixo 3 dicas para estender as possibilidades
de escuta – para nós mesmos e para o nosso entorno – ao longo do ano inteiro, com cuidado e presença.
1. Atenção aos seus sentimentos e pensamentos
Nem sempre damos a devida atenção ao que pensamos e sentimos. Somos atravessados por muitos diálogos externos e convidados a dar atenção para eles: é o trabalho, as tarefas
cotidianas, a mensagem no WhatsApp, a história do Instagram que desaparece em 24 horas, o convite no evento do Facebook… Fica difícil reservar um tempo para percebermos
como cada um desses convites nos afeta e o que cada um desperta nos nossos diálogos internos. Criar um espaço de escuta dentro de si mesmo é desafiador, mas é esta atenção
que nos permitirá ampliar a conexão com nós mesmos e perceber rapidamente quando estamos criando um afastamento da nossa essência.
2. Atenção às possibilidades externas de escuta e acolhimento
O apoio do entorno é de suma importância para o autoconhecimento: toda descoberta sobre nós mesmos acontece neste espaço de troca. Ter a presença de familiares e amigos
também nos momentos mais desafiadores e de maior desconexão é essencial para que a conexão seja resgatada. É claro que o apoio externo não exclui a necessidade de uma
escuta qualificada. Mas prestar atenção ao entorno para receber e para dar acolhimento é parte importante do processo. E isto inclui sugerir ou implementar políticas que chamem a
atenção para a saúde mental durante todo o ano na organização em que você trabalha, estuda ou administra. A prevenção enquanto escuta e espaço deve estar presente em
durante o ano todo e, a atenção a ela, em todos os pontos de contato das relações entre pessoas e entre pessoas e instituições.
3. Procura de escuta qualificada
Existem diversos profissionais de saúde mental, com diversas abordagens: psicólogos, psicoterapeutas, terapeutas, psiquiatras, psicanalistas etc. Não deixe de procurar um espaço de escuta qualificada quando perceber que é necessário: seja para tratar de pensamentos e emoções que você percebe que estão atrapalhando suas atividades mais básicas ou simplesmente para se conhecer melhor. A saúde mental não pode continuar sendo um tabu: é natural nem sempre conseguir lidar com os seus diálogos internos de forma saudável e existem inúmeros profissionais e metodologias específicas para te auxiliar nesse caminho de reconexão. Os espaços de acolhimento são muitos: clínicas particulares – que oferecem, por vezes, atendimentos a preços sociais –, imersões de autoconhecimento como o Processo Hoffman da Quadrinidade, os CAPSs (Centros de Atenção Psicossocial), as universidades que ofertam o curso de Psicologia – que frequentemente têm espaços abertos de escuta – e o CVV (Centro de Valorização da Vida). Não deixe de procurá-los quando crer necessário!
A prevenção do suicídio deve estar presente em os nossos pontos de interação e, para isso, é importante criar, manter e falar sobre espaços de acolhimento – internos e externos – diariamente. Criando e recriando, sempre, a conexão com a nossa essência que nos abre para a eterna novidade que é viver.